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Embasbawards 2010: Roteiro Adaptado

Os destaques em roteiro adapatado nas telas brasileiras em 2009:

Deixa Ela Entrar

Deixa Ela Entrar – Dar voz a todas as sutilezas e nuances de uma história tão bela e complexa como a que vemos aqui é uma das proezas do roteiro adaptado de Deixa Ela Entrar. A tensão e a ambiguidade criadas criam uma atmosfera poderosa com a ajuda da direção competente de Tomas Alfredson. É o roteiro e a edição competente que transformam Deixa Ela Entrar na pérola de 2009, uma história de duas leituras.

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O Leitor

O Leitor Alguns de meus colegas blogueiros não apreciaram muito O Leitor. Eu vi o filme como um dos melhores candidatos ao Oscar do ano passado. Baseado em um livro que traz questões humanas profundas que não se resumem à Segunda Guerra Mundial, o roteiro de O Leitor traz à tona conflitos poderosos e dá espaço para que Kate Winslet brilhe na performance que lhe rendeu o Oscar em 2009. Ainda que o filme tenha uma queda de qualidade no terço final, não penso que afete o resultado final da obra.

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Dúvida

Dúvida Baseado na peça de mesmo nome dirigida por John Patrick Shanley, que também esteve à frente do roteiro e da direção do filme, Dúvida tem um roteiro preciso e enigmático que dá toda a força ao filme. Alguns o acusaram de ser excessivamente teatral, o que denuncia suas origens. Pode ser verdade, mas, para mim, não há demérito alguns nas linhas ambíguas que criam diálogos inesquecíveis e uma das maiores dúvidas da história do cinema.

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Frost/Nixon

Frost/Nixon Frost/Nixon também foi lembrado no Embasbawards pela montagem que, em conjunto com o roteiro competente, dá uma força descomunal ao longa. Baseado também em uma peça e em um argumento que poderia tornar-se enfandonho, o roteiro não desliza na precisão e mantém o ritmo no duelo entre Frost e Nixon, tão memorável quanto a disputa entre Irmã Aloysius e Padre Flynn em Dúvida.

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Quem Quer Ser um Milionário?

Quem Quer Ser um Milionário? – Uma história simples que, graças ao trio direção-roteiro-montagem competente, cativou milhões ao redor do mundo e rendeu oito Oscar ao filme. Apesar de achar o argumento de Quem Quer Ser um Milionário? conservador e enganoso, isso não tira os méritos do roteiro bem escrito e ritmicamente intenso.


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Embasbawards 2010: Montagem

A categoria de montagem é uma das mais importantes de qualquer premiação, pois abrange um seguimento da arte cinematográfica que lhe único e determinante, acabando por levar um filme à glória ou ao fracasso. Abraços Partidos,  ao se utilizar de metalinguagem, bem o demonstra com o filme Chicas e Malenas. A montagem é uma das principais características que individualiza o cinema enquanto arte. O Embasbacado se lembra dos grande trabalhos de 2009:

Quem Quer Ser um Milionário?

Quem Quer Ser um Milionário? – O filme de Danny Boyle pode ser conservador ao extremo, mas sua forma de contar a história certamente determinou o sucesso de Quem Quer Ser um Milionário? Recheado de indas e vindas no tempo, diluídas perfeitamente no tempo presente, Boyle nos entrega um ritmo frenético com todas as pontas bem amarradas. Ao final, tudo se encaixa e a imersão é completa.

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Bastardos Inglórios

Bastardos Inglórios – Apesar dos diálogos irônicos e lapidados que sempre permeiam os filmes de Quentin Tarantino, nem só de diálogos é feito um filme. O conjunto da obra de Bastardos Inglórios atinge tamanha qualidade graças à orquestragem dos elementos que Tarantino tem às mãos: as palavras, o silêncio e subversão da história. Tenazmente editados, criaram um dos melhores filmes de 2009.

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Deixa Ela Entrar

Deixa Ela Entrar – A pérola de 2009 não poderia deixar de figurar nesta categoria. Não se engane com as sutilezas do roteiro ou com a plasticidade das imagens: cada quadro está em cena por um motivo e cada cena transmite algo importante para a montagem desse enigma sombrio que é Deixa Ela Entrar. A edição é tão competente que molda com perfeição a ambiguidade do roteiro: sob ângulos diversos, o filme pode ser uma linda histária de amor, amizade e alteridade ou uma fábula sombria de dominação e submissão.

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Frost/Nixon

Frost/NixonPode não parecer, mas Frost/Nixon é um filme de ritmo intenso e grande parte de sua força vem da edição competente das batalhas verbais entre Frost e Nixon. Não fosse pelo trabalho competente da montagem, o roteiro afiado poderia facilmente tornar-se enfadonho.

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O Anticristo

O Anticristo – Polêmico e sombrio. Ambiguo e impactante. O simbolismo da película de Lars Von Trier se intensifica com a sucessão competente de imagens e situações que, em conjunto, formam a mensagem maior da obra, qualquer que seja ela aos olhos de quem assiste. A edição aqui é responsável por dar forma aos signos e criar um crescendo de medo e angústia que explode no terço final, provocando asco ou catarse. E por que não ambos?

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Indicados ao BAFTA 2010

Torcida para o BAFTA de Filme Estrangeiro

Rapidamente, os indicados ao BAFTA 2010, o grande prêmio inglês do cinema. Prefiro comentar quando saírem os vencedores, duas semanas antes do Oscar. Só destaco a indicação do estupendo Deixa Ela Entrar como melhor filme estrangeiro. Sem dúvidas sobre minha torcida…

MELHOR FILME
Amor Sem Escalas
Avatar
Educação
Guerra ao Terror
Preciosa

MELHOR DIRETOR
Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror
Quentin Tarantino, por Bastardos Inglórios
James Cameron, por Avatar
Neill Blomkamp, por Distrito 9
Lone Scherfig, por Educação

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Quentin Tarantino, por Bastardos Inglórios
Bob Peterson e Pete Docter, por Up – Altas Aventuras
Jon Lucas e Scott Moore, por Se Beber, Não Case
Mark Boal, por Guerra ao Terror
Joel e Ethan Coen, por Um Homem Sério

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Geoffrey Fletcher, por Preciosa
Jason Reitman e Sheldon Turner, por Amor sem Escalas”
Neill Blomkamp e Terri Tatchell, por Distrito 9
Nick Hornby, por Educação
Jesse Armstrong, Simon Blackwell, Armando Iannucci e Tony Roche, por In the Loop

MELHOR ATOR
Jeff Bridges – Coração Louco
Jeremy Renner – Guerra ao Terror
Andy Serkis – Sex & Drugs & Rock & Roll
George Clooney – Amor Sem Escalas
Colin Firth – Direito de Amar

MELHOR ATRIZ
Gabourey Sidibe – Preciosa
Meryl Streep – Julie & Julia
Carey Mulligan – Educação
Saoirse Ronan – Um Olhar do Paraíso
Audrey Tautou – Coco Antes de Chanel

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Alec Baldwin – Simplesmente Complicado
Christian McKay – Me and Orson Welles
Christoph Waltz – Bastardos Inglórios
Alfred Molina – Educação
Stanley Tucci – Um Olhar do Paraíso

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Anne-Marie Duff – Nowhere Boy
Mo’nique – Preciosa
Kristin Scott Thomas – Nowhere Boy
Vera Farmiga – Amor Sem Escalas
Anna Kendrick – Amor Sem Escalas

MELHOR FILME BRITÂNICO
In the Loop
Lunar
Educação
Fish Tank
Nowhere Boy

MELHOR FILME DE LÍNGUA NÃO-INGLESA
Coco Antes de Chanel
Deixa ela Entrar
Abraços Partidos
Profeta
A Fita Branca

MELHOR ESTREIA DE ROTEIRISTA, DIRETOR OU PRODUTOR BRITÂNICO
Lucy Bailey, Andrew Thompson, Elizabeth Morgan Hemlock, David Pearson, diretores, produtores de Mugabe and the White African
Eran Creevy, roteirista/diretor de Shifty
Stuart Hazeldine, roteirista/diretor de Exam
Duncan Jones, diretor de Lunar
Sam Taylor-Wood, diretor de Nowhere Boy

MELHOR ANIMAÇÃO
Coraline
O Fantástico Sr. Raposo
Up – Altas Aventuras

MELHOR TRILHA SONORA
Avatar – James Horner
Sex & Drugs & Rock & Roll – Chaz Jankel
Up – Altas Aventuras – Michael Giacchino
Coração Louco – T-Bone Burnett, Stephen Bruton
O Fantástico Sr. Raposo – Alexandre Desplat

MELHOR FOTOGRAFIA
Guerra ao Terror
Bastardos Inglórios
Avatar
Distrito 9
A Estrada

MELHOR EDIÇÃO
Guerra ao Terror
Bastardos Inglórios
Avatar
Distrito 9
Amor Sem Escalas

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
Harry Potter e o Enigma do Príncipe
O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus
Bastardos Inglórios
Avatar
Distrito 9

MELHOR FIGURINO
Brilho de Uma Paixão
Coco Antes de Chanel
The Young Victoria
Educação
Direito de Amar

MELHOR SOM
Avatar
Distrito 9
Guerra ao Terror
Star Trek
Up – Altas Aventuras

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Avatar
Distrito 9
Harry Potter e o Enigma do Príncipe
Guerra ao Terror
Star Trek

MELHOR MAQUIAGEM
O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus
Coco Antes de Chanel
Educação
Nine
The Young Victoria

MELHOR CURTA METRAGEM
14
I Do Air
Jade
Mixtape
Off Season

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Crítica: DEIXA ELA ENTRAR (2008)

Deixa

Deixa

Já escrevi um pouco sobre esta obra-prima que é Deixa Ela Entrar em uma das postagens sobre o Festival Internacional de Terror, no qual assisti ao filme pela primeira vez. Graças ao sucesso nos festivais, o longa chegou aos cinemas e tem repetido a onda de elogios. A temática do vampirismo, em alta graças a Crepúsculo e True Blood, certamente impulsionou o filme que, no entanto, supera o modismo e se sobressai como um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. E não estou exagerando.

Deixa Ela Entrar é puro lirismo e prova cabal que o gênero terror produz pérolas que se imortalizam como filmes de primeira grandeza. O longa nos apresentar a Oskar, um retraído garoto de 12 anos que sobre bullying e a Eli, uma garota que tem 12 anos há muito tempo. Sim, ela é uma vampira mirim (que de inocente não tem nada…) recém-chegada  à vizinhança e que acaba por se tornar amiga de Oskar. Assim, enquanto a pacata cidade se assusta com uma série de crimes e Oskar enfrenta os valentões da escola, o menino e a vampira desenvolvem uma relação ambigua.

O ponto forte do longa é investir nas sutilezas, tão esquecidas pelo gênero ultimamente. A fotografia estática, o clima frio, as tomadas comtemplativas, o ritmo lento mas constante. Tecnicamente, Deixa Ela Entrar cumpre a cartilha ao dar vida a um roteiro brilhante, comandado pela direção competente do diretor Thomas Alfredson. Comandar dois atores tão jovens que atuam de forma tão singela e madura exige um talento que o diretor destila sagazmente.

Ela Entrar

Ela Entrar

Mas é a construção da história que culmina na perfeição alcançada pelo filme. A quantidade de detalhes e sutilezas torna impossível a compreensão da obra em uma única sessão ou por uma única pessoa. Muito do que apreciei do filme veio das conversas nas filas do festival após a sessão. Vou dar um exemplo que terá alguns spoilers, se não quiser ler, pule para o próximo parágrafo. Se repararmos bem no senhor que acompanha Eli, veremos que talvez não se trate de seu pai, como alguns críticos da grande mídia têm entendido, mas de seu amante, que possivelmente a conheceu na mesma idade de Oskar e envelheceu a seu lado. Várias sutilezas o denunciam. Os olhares de amor que desfere a Eli, o ciume que notadamente sente ao ver que a vampira está se relacionando com Oskar e a maneira que Eli o trata quando ele falha (o que também pode denunciar que a vampira não é um poço de bondade como se mostra a Oskar…)

Outro ponto forte do longa é apostar no vampirismo como uma grande metáfora de um humanisno profundo. Se superarmos o asco inicial à temática, com uma boa dose de alteridade, podemos notar que muitas das questões que se desenvolvem sob o foco do vampirismo são, na verdade, conflitos demasiadamente humanos. Para ficar em apenas um exemplo, cito a cena em que Oskar observa Eli trocar de roupa e olha rapidamente para suas genitálias, que simboliza todas angústias sexuais que envolvem a passagem da infância para a adolescência.

Deixa Ela Entrar é um acerto monumental, é poesia, é arte no estado puro, é algo que só o cinema pode nos entregar. Assistir ao filme é estar embasbacado por 110 minutos e sair do cinema com uma sensação de que a sétima arte ainda tem muito a oferecer para este mundo cinza em que vivemos. Só me lembro de Nietzsche nessas horas, afinal a Arte existe para que a verdade não nos destrua.

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