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Embasbawards 2010: Elenco

Os filmes com os melhores elencos de 2009:

Dúvida

Dúvida – O filme de John Patrick Shanley foi celebrado por seu roteiro magistral e seu time de atores fora do comum. Não era para menos. A jovem Amy Adams surpreende no melhor papel de sua carreira. A coadjuvante Viola Davis rouba os holofotes  e uma indicação ao Oscar por apenas duas cenas, que transbordam uma sutileza incrível. Philip Seymour Hoffman e Meryl Streep trazem um verdadeiro duelo interpretativo dando vida a personagens que, de tantas nuances, só poderiam brilhar nas mãos de mestres.

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Foi Apenas um Sonho

Foi Apenas um Sonho – Por que Kate Winslet foi indicado ao Oscar de Melhor Atriz por O Leitor, se muitos consideravam seu papel como coadjuvante? Uma das resposta é que se ela fosse lembrada por Foi Apenas um Sonho, Leonardo Di Caprio não poderia passar despercebido. Nesse filme, os dois dão um tremendo show como um casal perturbado pelas garras do cotidiano, enquanto Michael Shannon  despeja talento como um esquizofrênico dono de todas as verdades. E tem Kathy Bates para temperar.

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Anticristo

Anticristo Pode um filme de dois atores figurar nessa categoria? Naturalmente, se seus trabalhos forem dignos de nota. Charlotte Gainsbourg ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes por sua performance assustadora e profunda. Se a fotografia de Lars Von Trier cria o sombrio no ambiente, Charlotte dá a dimensão humana a essa escuridão maléfica que ronda Anticristo. Willem Daffoe, no melhor papel de sua carreira, tampouco se apaga diante de sua mulher.

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Frost/Nixon

Frost/Nixon – Frank Langella extremamente inspirado como o altivo Richard Nixon e Michael Sheen à vontade como o inseguro e atrevido apresentador David Sheen. Destaque também para o time de coadjuvantes que inclui Kevin Bacon e Rebecca Hall.

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Almoço em Agosto

Almoço em Agosto – Pouco lembrado pelos cinéfilos online, o filme italiano teve distribuição reduzida no Brasil. Nem por isso deixa de ser a melhor comédia de 2009. O elenco compreende uma série de idosas ao redor de Gianni, um homem de meia idade. Não há nenhum destaque individual no elenco, mas juntos formam uma harmonia que cria o tom cômico. Merece ser lembrado como uma ode à terceira idade e às comédias inteligentes.

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Crítica: JULIE & JULIA

Julia & Julia

Acompanhei a produção de Julie & Julia desde os primórdios, graças à admiração desmedida que tenho por Meryl Streep e que não é segredo para ninguém. Tive a oportunidade de conferir o filme na Mostra Internacional de São Paulo, mas preferi não fazê-lo para prestigiar os longas que nunca chegarão às telas brasileiras. Agora, com a estreia oficial do filme, pude conferir esse novo trabalho de Nora Ephron, que já trabalhara com Streep em A Difícil Arte de Amar e Silkwood.

Julie & Julia é um filme singelo e gostoso de se assistir. Baseado em duas histórias reais, o filme retrata o período em que a lenda da culinária Julia Child (Meryl Streep) ainda engatinhava na cozinha descobrindo sua paixão.  Quase cinquenta anos no futuro, Julie Powell (Amy Adams), infeliz com sua vida ordinária, resolve criar um blog e partilhar com o mundo sua experiência inusitada: cozinhar as 524 receitas do livro de Julia em 365 dias. Está pronto o cenário para receitas de dar água na boca.

Nora Ephron criou vários roteiros agradáveis de se assistir, alguns já imortais na categoria das comédias romanticas, como em Harry e Sally; em Julie & Julia a diretora/roteirista repete a dose. Ambas as histórias retratadas no longa são engraçadas, ao mesmo tempo inusitadas e banais e sempre sutis em suas insinuações. Além do mais, o roteiro cumpre a cartilha ao não dar predominância a nenhuma delas e manter-nos interessados tanto em Julie como em Julia. Singelo, divertido e ótimo para espairecer a cabeça antes de duas semanas de provas de final de semestre.

Meryl Streep e Amy Adams, apesar de não partilharem as telas (exceto pela TV…), repetem a dose de química já vista em Dúvida. Adams é simpática e fofucha, é uma boa atriz, mas ainda tem que comer um poquinho de feijão. Já Streep, nem precisava falar, está estupenda como sempre. Não vou chover no molhado e elogiá-la, mas só digo que ela conseguiu outra de suas proezas: imitar um sotaque inimitável. Recomendo a todos um video da verdadeira Julia Child para entender do que falo. Esse vídeo também serve para alguns que enxergaram a interpretação de Streep como quase caricata; na verdade, Julia era assim mesmo. Alô Academia, décima sexta indicação ao Oscar e, já está na hora, terceira estatueta para a rainha do cinema.

Julie & Julia vem no momento certo, ao acrescentar muitos ovos e manteiga em nossas vidas chatas e ascéticas, de calorias contadas e horas na academia. Essa relação de frieza e medo que desenvolvemos com nossos alimentos só tem a diminuir nossa riqueza civilizacional. Talvez o segredo para uma vida realmente saudável e feliz esteja em Julia Child: comer com prazer, amar o que faz e fazer muito sexo para gastar as calorias. Ninguém precisará de auto-ajuda.

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33ª Mostra Internacional: O DIA DA TRANSA & SINGULARIDADES

Singularidades

Singularidades... Ah, Eça...

Oficialmente, a Mostra Internacional já foi encerrada, restando apenas mais uma semana de repescagem, na qual podemos assistir a mais alguns filmes que tenhamos perdido. Infelizmente, com o final do semestre se aproximando, fica dificil continuar acompanhando a Mostra por mais uma semana. Vou apenas comentar o restante dos filmes a que assisti e ainda não postei comentários.

Singularidades de uma Rapariga Loura, do cineasta Manoel de Oliveira (101 anos de idade e energia!), peca em alguns aspectos cruciais, a começar pelo ritmo lento demais da película e pelo enfoque narrativo. Ainda assim, especialmente para quem se delicia com literatura portuguesa, o filme é uma boa pedida. Baseado em um conto de Eça de Queirós, o lúcido realista português, Singularidades vai fundo não apenas na crítica social, mas na análise minuciosa da ética pequeno-burguesa, cheia de contradições e de sombras perversas. Todos os elementos esperados estão por ali: o protagonista fraco, o idoso autoritário, as insinuações de homossexualidade reprimida, a vigilância da intimidade, os pudores demasiados. Ah, aquela janela e suas cortinas…

O Dia da Transa (Humpday) é uma comédia inteligentíssima, sincera e sensível. Ouvi comentários de que o filme é engraçado, mas não passa de uma nuvem, pois não ficará nas memórias. O ponto é que talvez ele nem isso pretenda. O tom do longa é a despretensão e é daí que nascem as grandes comédias. Dois amigos de época de faculdade se reencontram após muitos anos em que suas vidas tomaram rumos completamente opostos. Um se casou e estruturou a vida e o outro continua na onda de nerd cult bon vivant. Graças a um festival de pornô amador, os dois amigos resolvem gravar um filme pornô homossexual no qual ambos serão os protagonistas! Atuações afiadas, situações inteligentes, diálogos bem escritos, sentimentos verdadeiros, singeleza pura. E muita risada! Alguém quer mais alguma coisa?

Até mais!

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33ª Mostra Internacional: O PONTO VERMELHO & A REBELDE

O Ponto Vermelho

O Ponto Vermelho

Será possível aproximar as culturas do Japão e da Alemanha de forma original, sensível e sem se lembrar nem de longe da Segunda Guerra Mundial? A resposta afirmativa para essa pergunta está em um filme da Mostra Internacional de São Paulo: O Ponto Vermelho. Fui até a sala de exibição às cegas, sem saber o que esperar do filme, afinal, as sinopses a que temos acesso são menos elucidativas que bula de remédio. No fim das contas, isso acaba sendo legal, justamente pelas surpresas!

O longa conta a história de Aki, uma universitária japonesa que resolve ir à Alemanha para saber mais sobre a morte de seus pais, ocorrida há 18 anos. Na terra da cerveja, Aki vai conhecer uma família alemã que lhe dará abrigo e que tem muito mais a revelar. A partir daí, o filme, de poucos diálogos e muitos sentimentos, acerta ao aproximar pessoas tão diferentes e ao abordar questões de alta sensibilidade com maturidade. A direção sóbria e analítica de Marie Miyayama conduz o elenco competente através de um singelo drama pessoal e familiar.

A Rebelde

A Rebelde

Saí de O Ponto Vermelho e fui conferir o francês A Rebelde, do diretor Laurent Perreau, que conversou conosco antes do início da sessão. O cineasta, muito simpático e receptivo, ressaltou alguns aspectos do filme e nos chamou atenção para alguns quesitos técnicos, como a diversidade de tecnologias usadas nas filmagens, de acordo com o personagem em cena. O filme foca, principalmente, os conflitos de geração entre uma neta e um avô que moram juntos; a filmagem ressalta a contradição ao unir forma e conteúdo. A Rebelde também é uma ótima pedida, principalmente para quem é fã de conflitos familiares sinceros.

Hoje também conferi o super-esperado A Fita Branca, mas deixarei para comentá-lo em uma postagem especial. É só esperar.

Até mais!

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33ª Mostra Internacional: ERVAS DANINHAS e 500 DIAS

Ervas Daninhas

Ervas Daninhas

Hoje foi o primeiro dia da 33ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e eu fui conferir dois filmes bem concorridos, cujas  sessões estavam lotadas: Ervas Daninhas (Les Herbes Folles), de Alain Resnais e 500 Dias com Ela (500 Days of Summer), de Marc Webb. Apesar dos atrasos consideráveis nos dois filmes, tudo ocorreu bem e a bela projeção digital da Reserva Cultural fez jus à fotografia estonteante da película francesa, tão prejudicada no Festival do Rio. A Mostra acontece até o dia 05 de novembro e ainda há vários filmes a conferir!

Ervas Daninhas lembra muito Medos Privados em Lugares Públicos, filme anterior de Resnais e que está em cartaz até hoje em São Paulo. Nessas duas obras, o diretor vai fundo no retrato sensível e apurado dos sentimentos e conflitos de seus personagens. No entanto, devo confessar que Ervas Daninhas é um pouco mais excêntrico que Medos Privados, o que garante boas risadas, muitas incógnitas e várias sutilezas que passam despercebidas.  Mesmo assim, levanto algumas questões: estaria o diretor comparando o amor a algum tipo de batalha? Não seria a trama dos personagens  um quadro de reconhecimento no anonimato, de alteridade? Mais do que indicado, é um filme a ser assitido com disposição e a ser lentamente digerido.

500 Dias com Ela

500 Dias com Ela

500 Dias com Ela, muito esperado pelo mundo on-line dos nerds e compainha limitada, cumpre sua função e se revela uma boa opção. O filme é realmente engraçado e criativo, com várias tiradas sagazes e referências ao universo cult. Apesar de deslizar em alguns lugares comuns do gênero, no geral o roteiro apresenta soluções originais e consegue surpreender a audiência, que saiu com uma ótima impressão do longa.

Amanhã, O Embasbacado assistirá a Cinerama e Sede de Sangue e ogo tratá mais cobertura da Mostra até dia 05 de Novembro. Aliás, fui entrevistado pela Folha e o blog ganhou destaque nesta matéria aqui. Agradeço à Folha de São Paulo e à Martha Lopes pela oportunidade e pela credibilidade.

Até mais!

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Crítica: DEIXA ELA ENTRAR (2008)

Deixa

Deixa

Já escrevi um pouco sobre esta obra-prima que é Deixa Ela Entrar em uma das postagens sobre o Festival Internacional de Terror, no qual assisti ao filme pela primeira vez. Graças ao sucesso nos festivais, o longa chegou aos cinemas e tem repetido a onda de elogios. A temática do vampirismo, em alta graças a Crepúsculo e True Blood, certamente impulsionou o filme que, no entanto, supera o modismo e se sobressai como um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. E não estou exagerando.

Deixa Ela Entrar é puro lirismo e prova cabal que o gênero terror produz pérolas que se imortalizam como filmes de primeira grandeza. O longa nos apresentar a Oskar, um retraído garoto de 12 anos que sobre bullying e a Eli, uma garota que tem 12 anos há muito tempo. Sim, ela é uma vampira mirim (que de inocente não tem nada…) recém-chegada  à vizinhança e que acaba por se tornar amiga de Oskar. Assim, enquanto a pacata cidade se assusta com uma série de crimes e Oskar enfrenta os valentões da escola, o menino e a vampira desenvolvem uma relação ambigua.

O ponto forte do longa é investir nas sutilezas, tão esquecidas pelo gênero ultimamente. A fotografia estática, o clima frio, as tomadas comtemplativas, o ritmo lento mas constante. Tecnicamente, Deixa Ela Entrar cumpre a cartilha ao dar vida a um roteiro brilhante, comandado pela direção competente do diretor Thomas Alfredson. Comandar dois atores tão jovens que atuam de forma tão singela e madura exige um talento que o diretor destila sagazmente.

Ela Entrar

Ela Entrar

Mas é a construção da história que culmina na perfeição alcançada pelo filme. A quantidade de detalhes e sutilezas torna impossível a compreensão da obra em uma única sessão ou por uma única pessoa. Muito do que apreciei do filme veio das conversas nas filas do festival após a sessão. Vou dar um exemplo que terá alguns spoilers, se não quiser ler, pule para o próximo parágrafo. Se repararmos bem no senhor que acompanha Eli, veremos que talvez não se trate de seu pai, como alguns críticos da grande mídia têm entendido, mas de seu amante, que possivelmente a conheceu na mesma idade de Oskar e envelheceu a seu lado. Várias sutilezas o denunciam. Os olhares de amor que desfere a Eli, o ciume que notadamente sente ao ver que a vampira está se relacionando com Oskar e a maneira que Eli o trata quando ele falha (o que também pode denunciar que a vampira não é um poço de bondade como se mostra a Oskar…)

Outro ponto forte do longa é apostar no vampirismo como uma grande metáfora de um humanisno profundo. Se superarmos o asco inicial à temática, com uma boa dose de alteridade, podemos notar que muitas das questões que se desenvolvem sob o foco do vampirismo são, na verdade, conflitos demasiadamente humanos. Para ficar em apenas um exemplo, cito a cena em que Oskar observa Eli trocar de roupa e olha rapidamente para suas genitálias, que simboliza todas angústias sexuais que envolvem a passagem da infância para a adolescência.

Deixa Ela Entrar é um acerto monumental, é poesia, é arte no estado puro, é algo que só o cinema pode nos entregar. Assistir ao filme é estar embasbacado por 110 minutos e sair do cinema com uma sensação de que a sétima arte ainda tem muito a oferecer para este mundo cinza em que vivemos. Só me lembro de Nietzsche nessas horas, afinal a Arte existe para que a verdade não nos destrua.

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Crônica

Cinema e o Épico Moderno

Épico

Épico

Ir ao cinema tem se tornado uma das mais difíceis experiências pela qual um ser humano pode passar, sem contar o fato de ter que percorrer oito estações lotadas de metrô, entre vírus H1N1 e pessoas mal-humoradas, provavelmente chegar atrasado à estação e correr como um louco para chegar a tempo. Se conseguir sobreviver a tudo isso e encontrar um ingresso, me sentarei em uma confortável poltrona, que simpaticamente carrega um chiclete que grudará em minha calça. Atrás de mim, um belo casal apaixonado e, à frente, dois amigos conversadores, discutindo a influência de Tarkovsky na estética do cinema iraniano. Ao meu lado, uma carinhosa mãe e seu pequeno Édipo.  As luzes diminuem de intensidade e, voilà, um comercial de carros, outro de hotéis e um terceiro sobre supermercados. Como se não bastasse, cinco minutos de propaganda do próprio cinema e das eficientes regras de segurança rendem uma experiência cultural sem tamanho. O jovem casal já se beija ternamente, e a dupla à minha frente resolve discutir cinema brasileiro e retrato das favelas cariocas.

Os trailers começam, mas os atrasados estão chegando. Um trailer interessante chama a atenção, mas não consigo vê-lo porque um atrasado não consegue enxergar os degraus e parou no meio da escada para escolher seu lugar. Há várias cadeiras vazias, mas ele sabiamente elege uma na minha fileira. O espaço é mínimo, e ele tem que passar: grudo as costas no encosto, enfio os pés debaixo da poltrona, torço as pernas e seguro o ar. Ele se senta e eu ganho um estiramento muscular.

O filme começa, o logo do estúdio aparece na tela e os cinéfilos à frente resolvem discutir a história do cinema sob a ótica crítica dos anos oitenta. Quando as primeiras legendas aparecem, o pequeno Édipo começa a reclamar que não está conseguindo acompanhar e sua mãe Jocasta começa a resumir as cenas para ele. O casalzinho não consegue mais segurar os ânimos. O menino, inexperiente coitado, acha que vai copular ali mesmo e, na ânsia de subir em cima da amada, começa a chutar minha cadeira. Pá. Pum. Pá.

Antigamente o cinema era escuro, hoje não mais. O atrasado, provável bussiness man, quer saber o horário e abre seu celular holofote ofuscante que demora quase 1 minuto para se apagar. A dupla de homens letrados resolve escrever uma mensagem para alguém no meio do filme, o que rende mais alguns minutos de cinema ao sol do meio dia. O pequeno Édipo está agitado. Por que raios alguém traz uma criança num filme legendado? Pá. Pum. Pá. Pum. Os chutes ficam mais fortes à medida que a coisa esquenta lá atrás. A trilha sonora do filme compete com os gemidos do casal.

Depois de narrar o filme por mais de uma hora, Jocasta resolve tirar pequeno Édipo, já chorando sem parar, do cinema e nos traz um pouco de paz. Doce engano. Cena dramática, silêncio no filme, só os olhares dos atores preenchem as salas… Musiquinha de balada, é o celular do bussiness man tocando. Não sei por que me surpreendo, mas o indivíduo atende a geringonça e começa a discutir a cotação da bolsa. A dupla de cinéfilos começa a disputar entre si quem entende mais de cinema e quem vai adivinhar primeiro o fim do filme. Pá. Pum. Pá. Pápá. Pápápápápápápápá. O casal lá atrás chegou ao êxtase e minha poltrona virou cadeira de massagem. Perco a paciência. Dá pra parar de chutar a porra da minha cadeira?! Será que vocês podem destilar seus saberes outra hora?! Até que horas você vai falar na merda desse celular?! Silêncio total. Finalmente poderei assistir ao filme em paz. Não desta vez. As luzes se acendem e o letreiro enche a tela.

Por que, mesmo assim, faço questão de ir ao cinema toda semana, sem falhar? Logo mais conversaremos sobre isso.

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Cinema Chileno em São Paulo

Festival

Olá pessoal!

Recebi um comunicado dos organizadores do “II Festival de Cinema Chileno em São Paulo”, a ocorrer entre os dias 27 de Agosto e 03 de Setembro na Reserva Cultural. Divulgo o evento por aqui por ser uma das raras oportunidades que temos de conferir filmes de fora do circuito oficial. Muitas vezes, entre esses filmes de pouquíssima distribuição ou fama no mercado, há verdadeiras jóias, como conferi no I SP Terror: Festival Internacional. Assim, recomendo àqueles que puderem reservar um tempinho nesses dias mais esse evento do mundo cinematográfico.

Para quem quiser saber mais, o site do festival oferece mais detalhes, incluindo a programação e informações sobre os filmes, além de possuir um blog com algumas postagens interessantes, como a história resumida do Cinema Chileno. O Festival é fomentado pelo Pro/Chile, órgão ligado ao governo do país.

Estou bem ocupado por esses dias, mas vou tentar conferir pelo menos um filme e comento por aqui!

Abraços a todos.

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Entre Margo e Margot

Margo e Eve. Detalhe ao fundo: Marilyn Monroe

Margo e Eve. Detalhe ao fundo: Marilyn Monroe

Disque M para Matar a Malvada

Com o perdão da pobre assonância,  esses dias assisti a dois clássicos, no sentido maior da palavra, do cinema: A Malvada (1950) e Disque M para Matar (1954). O primeiro, indicado a 14 Oscar (feito que só Titanic conseguiria 47 anos depois), um suspense de diálogos cortantes e cheios de referências. O segundo,  obra do mestre do suspense, Alfred Hitchcock. Separando Margo Channing (Bette Davis) e Margot Wending (Grace Kelly) há mais que apenas 4 anos da História do Cinema, há toda uma concepção diversa de bons filmes. Não há que se fazer crítica de tais filmes, imortalizados por sua própria excelência, mas apenas apontar os caminhos que os tornaram clássicos.

A Malvada aposta em personagens esféricos e complexos e disserta sobre temas variados. Margo Channing carrega um mundo todo por trás dos olhos de Bette Davis, um dos mais expressivos que o Cinema já conheceu. Anne Baxter nos entrega Eve Harrington no ponto certo, oscilando entre a inocência e maldade que seu papel de anti-heroína exige.  Aliás o título original do filme é um trocadilho: All about Eve (Tudo sobre Eve) tem o som muito parecido com All about Evil, que significa Tudo sobre o mal. Contando com diálogos muito inteligentes e cheios de refências à história do Cinema e do Teatro, A Malvada possui um roteiro brilhante e cheio de sutilezas (como na cena em que Eve conversa DeWitt no banheiro) que os transporta a um mundo onde Hollywood começava a se tornar um gigante.

Disque M para Matar, que já traz o peso das mãos de Hitchcock, se desenvolve por um caminho diferente, mas igualmente avassalador. Suspense policial e adaptado do teatro, a ação se desenrola praticamente dentro de um único cômodo, o que torna o filme dependende dos diálogos e da tensão natural da situação que vemos. E nisso Hitchcock é o mestre. Não há tempo para aprofundar personagens, é verdade, mas a engenhosidade do roteiro e da direção consegue nos prender à história do começo ao fim e, de repente, todos os detalhes fazem sentido e compõe um maravilhoso quadro. Hoje, vivemos em tempos que o suspense exige música alta e situações perigosíssimas para prender a audiência. Hithcock consegue o mesmo efeito sem recorrer a tais malabarismos.

O que há entre Margo (1950) e Margot (1954) além da Guerra da Coreia? Há uma grande diferença da maneira de fazer bons filmes. De um lado, personagens esféricos, conflitos humanos e atores poderosos. De outro, roteiro intrincado, suspense policial e ação pautada em diálogos que, pouco a pouco, revelam o conteúdo do filme. Nesse sentido, A Malvada é conteudo e forma em equlíbrio perfeito;  Disque M para Matar é pura forma que, bem trabalhada, cria um belo conteudo. Paradoxal? Talvez, mas recomendo muito assistir aos dois para entender do que falo.

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Entre o Crepúsculo e a Aurora

Crepúsculo

Desde quando iniciei esse blog, venho fazendo críticas de cinema. Sempre deixei claro, no entanto, que pretendia dar um enfoque diferenciado a meus textos, fugindo da mesmice das críticas que podemos encontrar em qualquer jornal. Essa é uma tendência que venho notando entre os blogs, as tentativas de fugir dessa padronização, alguns em maior tom, outros em menor. Mas para refletir sobre essa tendência, uma questionamento fundamental é necessário: o que raios é uma crítica?

Em linhas gerais, a crítica artística é um exercício racional sobre determinado tema da esfera cultural, visando objetivar percepções subjetivas. Belas palavras. O que o ocorre, na verdade, é que as críticas formam um imenso mercado ao lado da própria da Arte, às vezes ganhando maior projeção que seu próprio objeto. Nesse sentido, durante muitas décadas, a crítica cinematográfica ganhou credibilidade e poder a ponto de influenciar a decisão de um indivíduo ir ou não ao cinema. Essa realidade contém uma contradição básica: por mais objetiva e bem realizada que uma crítica seja, ela nunca pode substituir a experiência estética que o indivíduo possui. Assim, aconselhar ou desaconselhar alguém a ir no cinema por meio de um texto é uma incoerência gigantesca.

Valendo-me das palavras do mestre Rubem Alves, críticas são palavras e “palavras que ensinam são gaiolas para pássaros engaioláveis”. Ocorre que a Arte é sempre um pássaro em voo, nunca preso pelo poder da razão.  Engaiolar a  Arte é decretar sua sentença de morte. Assim, tentar ensinar alguém a como sentir um filme é impossível. Não se pode ensinar a beleza, pois o belo só se sente no íntimo de cada um. Quem nunca foi o único a chorar em um filme ou o chato que não se emociou junto a todos?

Nesse contexto, a crítica cinematográfica toma outros moldes, que é a discussão de temas que estão em seu escopo: as técnicas de se fazer cinema e as ideias por trás delas. Isso pode ser discutido, afinal estamos falando em uma realidade objetiva, ou seja, o trabalho concreto de construção de um filme. Esse trabalho (edição, fotografia, direção e afins) pode ser analisado à luz da razão, pois há parâmetros para tal empreitada. Mais que isso, é possível assumir uma tendência a um caminho reflexivo nas análises de cinema, levantando discussões pertinentes à realidade em que vivemos. Assim, ao invés de tentar roubar a experiência estética de quem assiste a um filme, podemos aproveitá-la para expandir o alcance da obra. Deixa-se de lado a tentativa de engaiolar a Arte para extendê-la ao máximo.

Estamos entre o crepúsculo de uma época em que críticos dão notas a filmes e a aurora de um tempo em que filmes são discutidos em sua extensão pela realidade. Só haverá espaço para a crítica se houver reconhecimento de que não se discute beleza, mas técnica. O modo como se faz um filme e seus questionamentos podem ser discutidos, sua beleza não. Não há mais espaço para roubar os sentimentos alheios.  Se os grandes autores de críticas insistirem em tentar reduzir as experiências estéticas à mera racionalidade, correremos o risco de criar um mundo paralelo onde o expectador comum não consegue se enxergar. Dentro dessa perspectiva, saúdo a todos os apreciadores de cinema que, como eu, estão presos a este delicioso vício de discutir a Arte.

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